Nestes últimos dias, provavelmente você já leu ou ouviu
algo do tipo:
-Que horror, o povo gaúcho vivendo uma tragédia e estão
pensando em festa!
-Que barbaridade, o Rio Grande arrasado e ainda falam em
eleições!
-Que desumano, com toda essa tragédia e tem gente se importando
com futebol!
E por aí vai...
Acontece que esse discurso (e essa prática) além de
hipócrita é demagogo, senão vejamos: por acaso alguém, que não teve infortúnios
com as chuvas, deixou de fazer sua festa de aniversário, ou o juntamento no
final de semana? Se teve a oportunidade, deixou de ir num bailinho? Não está
preocupado com o futuro de Grêmio, Inter e Juventude no Brasileirão? Ou não
está discutindo em casa, com os amigos ou no trabalho quem serão os candidatos
nas próximas eleições? E daí? Parece que isso agora virou crime grave, sujeito
a cancelamento!
Sugiro para aqueles que são formadores de opinião que,
antes de esparramar esse instrumento de desconstrução da opinião pública, leia “ALEMANHA
1945” do historiador inglês Richard Bessel. O livro – com um suporte de impressionante
repertório de fontes – mostra como o povo alemão se concentrou na reconstrução
de seu país após a guerra. O país que teve cidades e símbolos destruídos,
colapso econômico, desintegração social, deslocamentos em massa, violência
sexual. Em dez anos a Alemanha tornou-se uma das maiores potências mundiais.
Também recomendo, para os que demonizam a política e o
fazer eleitoral, o livro “1893 – Sangue na Lagoa Vermelha” – de Claudio Junior
Damin. Também um relato histórico baseado em fontes documentais que percorre o
período após 1889 (Proclamação da República) no Rio Grande do Sul. São os
primeiros passos rumo ao sistema eleitoral que temos hoje e fio condutor das revoluções
que se seguiram. Não se fala em processos eleitorais no Rio Grande sem
mencionar Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros, Luis Antônio de Assis Brasil,
Gumersindo Saraiva, entre tantos outros gaúchos que hoje dão nomes às nossas
ruas. Não é certo bater no peito e honrar os que vieram antes de nós? Ou se
trata apenas de alegoria?
A região central do Estado , mais do que nunca, precisa
de nós! Não apenas do nosso luto, condolências. Precisa que TRABALHEMOS
dobrado, que seguremos as pontas, que cuidemos da nossa sanidade mental, que
façamos a roda da economia girar enquanto eles tentam sair da obscura zona de
guerra em que se encontram.
Alguém já parou para pensar na enorme demanda que surgirá
a partir dessa situação de desastre? Na construção civil, na mão-de-obra técnica
e especializada, na pesquisa, na reurbanização, nas tecnologias para a
produção... Enfim, nós que estamos com a casa seca, precisamos abandonar o
discurso paralisante e construirmos narrativas propositivas, que projete um
futuro humanizado, seguro e sustentável para todo o povo gaúcho.