sexta-feira, 9 de julho de 2010

Vem por cima do meu cadáver

VEM POR CIMA DO MEU CADÁVER

PERSONAGENS

MARCOLINO – homem de uns 80 anos. Casado com Balbina, pai de Alfredo.
BALBINA – Mulher de aproximadamente 80 anos. Casada com Marcolino e mãe de Alfredo.
ALFREDO – Filho de Marcolino Balbina. Morava até então na capital com a finalidade de estudar, mas na verdade estava é curtindo a vida.
MARILEUSA – Empregada da casa. Gostosona povoa os sonhos de Marcolino.
IOBALDO - Antigo empregado da casa. Um pouco mais novo que o patrão;
CORALINA – Foi noiva de Marcolino na juventude. Abandonada no altar, morreu de desgosto pouco tempo depois.


(No in ício da cena Marileusa está tirando o pó da sala cantando uma música bem brega. Ela usa uniforme bem justo e curto.)

MARILEUSA: (cantarolando) hoje eu vou sair com o Claudião, com o Claudião, com o Claudião!

(quando ela termina a música, atira a bunda para trás ficando a dois palmos de distância de Marcolino, que baba, na mesma hora, do outro lado entra Balbina)

MARILEUSA: (quando se dá conta da presença de Marcolino) Ah dona Balbina! Olha só o seu Marcolino aí, não sai do meu cangote!

BALBINA: Não te preocupa minha filha. Faz tanto tempo que esse véio não presta pra mais nada que não vai passar do teu cangote... Do pescoço pra baixo só o que funciona é a asa, budum e o chulé!

MARILEUSA: Ai que nojo...

MARCOLINO: (que até então estava vidrado na bunda da empregada) Ainda bem que do pescoço pra cima tudo funciona muito bem não é? (mostrando a língua).
(Balbina pega a menina pelo braço, arrastando-a pra longe do veio, que faz uma careta pra veia e vai sentar-se na sua cadeira preferida)

BALBINA: Marileusa que dia é hoje?

MARILEUSA: hoje é sexta-feira, 6 de agosto.

BALBINA: Então minha filha, tu faz uma faxina bem feita no quarto do Alfredo, que deve de tar chegando daqui a algumas horas...

MARILEUSA: É mesmo? Que emocionante! Tô doida pra conhecer o seu Alfredo... será que ele tem o mesmo assanhamento do seu Marcolino?

MARCOLINO: O mesmo não sei, que pra me ganhar carreira tem que tomar muito biotônico nesta vida... Mas se saiu a mim, no mínimo bem dotado ele é. O meu Alfredo foi um guri criado solto, com todos os ensinamentos que um cuera precisa pra chegar nos baile e causar alvoroço entre as gurias...

MARILEUSA: hummm...... Eu imagino então que seja um bonitão, fortão, machão, gostosão, parecido com o meu Claudião! (dá uns gritinhos)

BALBINA: Sossega essa periquita que não é pro teu bico Marileusa. O Alfredo é um guri estudado. Foi pra capital estudar... o que foi mesmo MArcolino? Qual foi o curso que o Alfredo foi tirar lá em Porto Alegre?

MARCOLINO: Bah! O nome do troço eu não me lembro. Só sei que tem a ver com desenho... de casa, ou de carro. Nunca me disse direito. Eu queria mesmo é que o Alfredo fosse domador de cavalo, que é uma função de homem, com confiança no braço, difícil de encontrar gente boa por aí. Eu ia ensinar tudo que eu sei .... mas a Balbina embestou que tinha que mandar o piá pra capital...

BALBINA: Então é isso, vai logo arrumar o quarto dele, deixa bem cheiroso... e manda o Iobaldo vir aqui que tenho umas ordi pra ele...

MARILEUSA: Sim senhora... (sai levando consigo o olhar cobiçoso de Marcolino)

IOBALDO: A patroa chamou?

BALBINA: Chamei sim. O Alfredo chega hoje Iobaldo, e eu quero que tu mates uma galinha bem gorda qué pra fazer a janta pra ele. Aproveita e me trás umas abobra da horta pra faze um doce de sobremesa, que o Alfredo gosta muito...

IOBALDO: Sim senhora. E a patroa precisa de mais alguma coisa? Quer umas ervas de chá fresquinhas, ou umas flores pra enfeitara sala?

MARCOLINO: Mas que negrinho mais puxa-saco! Pelo amor de Deus pára de lamber os pés dessa veia cascarra Iobaldo! Até hoje não sei porque não vendi esse negrinho....

IOBALDO: (muito sério) Não vendeu porque nunca fui escravo! E eu não sou puxa-saco da dona Balbina, apenas sirvo ela com respeito conforme um empregado tem que ser... (lança um olhar meloso pra veia)

BALBINA: Ta bem já chega! Iobaldo tu vai fazer o que te mandei. Não te esquece da abobra de pescoço!

IOBALDO: Dá licença! (Olha com desdém quando passa por Marcolino que, do canto da boca dá uma cuspida).

BALBINA: Tu vai morrer estrebuchando e sempre com essa implicância com o Iobaldo...

MARCOLINO: Não me roga praga veia desgraçada. Não é implicância não. Pensa que não percebo aqueles oio espichado pra cima de ti?

BALBINA: E pára de chamar ele de escravo! Coisa mais antiga, tu nem conheceu o tempo dos escravos....

MARCOLINO: Pois lamento profundamente por isso. Queria poder bota esse negrinho abusado no tronco de vez em quando!

(entra Marileusa com um penico cheio de mijo na mão, apertando o nariz)

MARILEUSA: Dona Balbina! Assim não dá! Olha o que eu achei embaixo da cama do seu Alfredo? Um penico cheio! Já não basta os que tenho que despejar todo santo dia de manhã?

BALBINA: Marcolino! Pra que fazer isso? Que necessidade tu tens de mijar em todos os quartos da casa? Desse jeito não tem empregada que agüente!!!

MARCOLINO: (levanta-se) Ah! Porque não tão acostumadas com cavalo grande! (chega perto de MArileusa) Pois assim é com os cavalos e assim é com os homens fortes e vigorosos: (arruma o cinto da bombacha) têm necessidades que precisam ser supridas e não podem esperar!

MARILEUSA: Pois está mais parecido com um zurrilho velho e mijão!

BALBINA: Ai coitado. Forte e vigoroso... até parece. Vou te contar Marileusa, isso tudo é só conversa... o vigor dele mal e mal deu pra fazer o Alfredo. Em seguida já começaram as desculpas, os desvios, e a coisa foi escasseando até não prestar pra mais nada, só conversa...

MARCOLINO: Também com essa veia asquerosa que te transformaste, não tem apostador nessas carreira...

BALBINA: Não me venha com insultos Marcolino, ou quem sabe queres ressucitar aquela difunta mal encomendada pra me fazer desfeita? Quer saber de uma coisa? Vou é cuidar das minhas panelas, só perco tempo dando conversa pra esse veio cornichão! (sai furiosa)

MARCOLINO: Vem aqui sua boca frouxa, que ainda não terminamos a conversa... (sai atrás da veia)

(ao mesmo tempo entra Iobaldo)

MARILEUSA: Iiiii, a bruxa ta solta! Os veios tão que não podem se olhar! Mas agora tu me conta uma coisa Iobaldo. Faz tempo que tu com trabalha com eles não é mesmo?

IOBALDO: Desde que eu era pequeno, ainda na casa do pai do seu Marcolino.

MARILEUSA: Então me conta que história é essa de “difunta mal encomendada”?

IOBALDO: Ah! É uma história muito triste, que aconteceu há muito tempo.

MARILEUSA: Não vai me deixar mais curiosa ainda, conta logo, vamos...

IOBALDO: Quando o seu Marcolino era moço, o pai dele prometeu ele pra dona Balbina que era uma moça muito bonita, prendada, uma flor de guria, bem branquinha....

MARILEUSA: Ta, ta Iobaldo, que tu arrasta um caminhão pela veia todo mundo já percebeu, segue adiante...

IOBALDO: Mas aí o seu Marcolino, guri novo, domador de cavalos e dos bons, foi fazer um serviço numa fazenda lá em Jaguarão. E por lá se enrabixou por uma moça que, se não me engano o nome era dona Coralina...

MARILEUSA: Ahhh.....

IOBALDO: Eu sei que ele ficou bem louco, mandou uma carta pro pai dizendo que não queria mais saber da dona Balbina, que não ia mais voltar de Jaguarão, e que ia se casar com a dona Coralina...

MARILEUSA: Minha nossa que barraco! E o que foi que aconteceu?

IOBALDO: Bueno, aí quando o pai do seu MArcolino foi dar a notícia pra dona Balbina, ela ficou furiosa! Aí ela esperou o dia do casamento. Foi a Jaguarão levou o pai dela e mais uma espingarda deste tamanho pra espiar a cerimônia.

MARILEUSA: E aí???? Conta mais, conta mais!!!!

IOBALDO: Aí o seu MArcolino tava no altar, com a dona Coralina, o padre rezando o casamento e veio aquela pergunta: (alguém dos bastidores grita) alguém tem alguma coisa contra esse casamento? Aí a dona Balbina gritou: Eu tenho, esse noivo é meu!

MARILEUSA: Que horror! E o que aconteceu depois?

IOBALDO: Depois, a dona Coralina, não quis mais casar. E a dona Balbina trouxe o seu Marcolino de volta com a arma do pai dela na orelha dele.

MARILEUSA: E a dona Coralina era bonita? Nunca mais voltou pra buscar o veio?

IOBALDO: A dona Coralina era muito bonita. Altona, magra, com os cabelo bem pretinho como a noite. Dizem que parecia uma santa vestida de noiva. Coitada morreu de desgosto poucos dias depois do acontecido...

MARILEUSA: Cruz credo!

IOBALDO: É. E dizem que ela pediu pra ser enterrada com o maldito vestido....

MARILEUSA: Jesus, que história! E esses dois vivem assim, se bicando o tempo todo... ta explicado então.

IOBALDO: Eu se fosse tu nem tocava nesse assunto, que é como botar fogo na casa!

(Nesse momento, entram os veios – um de cada lado – ainda emburrados. Ambos sentam-se um em cada extremo da sala.

MARCOLINO: MArileusa! Diz pra tua patroa que ta quase na hora do guri chegar. Será que a janta não sai hoje?

MARILEUSA: Dona Balbina, o seu MArcolino perguntou pela janta...

BALBINA: Iobaldo, diz pro teu patrão que a janta vai sair na hora que EU quiser....

IOBALDO: Seu Marcolino, a dona Balbina disse que já ta quase pronta.

MARCOLINO: Marileusa, diz pra tua patroa que as obrigação dela são de cuidar da casa e não deixar as pessoas morrer de fome...

MARILEUSA: Dona Balbina, o seu Marcolino perguntou se não tem um aperitivo...

BALBINA: Iobaldo, diz por teu patrão que se ele quiser que vá no bolicho do Manoel Ataíde comer um naco de mortadela...

IOBALDO: Seu marcolino, a dona Balbina disse que já vai servir a janta.

(nesse momento entra porta adentro o Alfredo, abre os braços com as malas na mão)

ALFREDO: Papai!!!!!

(por alguns instantes todos ficam mudos olhando para o recém chegado)

MARCOLINO: (sem se mover) Balbina, em que mês nós estamos?

BALBINA: (sem se mexer, os olhos fixos em Alfredo) Em agosto.

MARCOLINO: Então quer dizer que não é carnaval?

(Balbina, prevendo tudo, faz o sinal da cruz)

IOBALDO: (tentando quebrar o gelo) Seu Alfredo, como o senhor cresceu!

MARILEUSA: (explode) ahahahahah!!!!!

MARCOLINO: Alfredo, tu podes me explicar agora mesmo o que isso significa?

ALFREDO: Boas vindas pra ti também papai. E eu não entendi a pergunta.

MARCOLINO: Pois então eu vou repetir. (pega o relho) Eu mandei um guri forte, possante, cheio de saúde pra estudar na capital, e agora me aparece esse carro alegórico magricela com as cocha colada dizendo que é meu filho Alfredo! Cadê o meu filho?????

ALFREDO: Mamy, olha o pai? Ele ta me magoando....

BALBINA: Calma MArcolino, isso é jeito de receber o menino?

MARCOLINO: Menino Balbina? Isso aí tem alguma semelhança com um menino? Ah mas a culpa é tua, que vivias metendo manha e balda no guri, agora olha só resultado?

IOBALDO: Seu Alfredo, me dê as suas malas que vou levar para o quarto. Seja bem vindo, espero que o senhor consiga melhorar o clima da casa... (sai)

ALFREDO: Como assim?

MARILEUSA: (puxa Alfredo por um braço) Seu Alfredo, é que os veios tão cada vez pior... só brigam e se xingam... e tem a história da defunta....

ALFREDO: Não me diz que ainda aquela velha história da noiva cadáver... já virou até filme. Que besteira. Pode deixar que vou dar um jeito no astral da casa. (rodopia pela sala) O que está faltando aqui é um pouco de colorido, umas cortinas novas, uns tapetes persas, umas almofadas de veludo...

BALBINA: Pelo amor de Deus...

MARCOLINO: (dá um relhasso no chão ) Fecha essa matraca guri de merda! Não posso mais nem ouvir essa tua voz de capão. Balbina! Vou me lavar e tu trata de servir a janta antes que eu me aborreça mais ainda contigo. (sai resmungando) Além de bruxa , me pariu um bibelô tresloucado com os cabelo amarelo....veia desgraçada...

BALBINA: (levantando-se) Alfredo vai te preparar pra janta também e fica quieto o mais que puderes pra não aborrecer o teu pai. Depois eu dou uns para te quieto nele e tudo se ajeita... (sai)
.
ALFREDO: (espera a veia sair) Esqueci o quanto esses dois eram atrasados. E eu ainda nem disse pra eles que agora me chamam de Freedy, e que meu curso de Designer de Moda é um sucesso no mundo fashion...

MARILEUSA: Menino nem fale uma coisa dessas perto do seu MArcolino que é bem capaz do veio te botar pra correr. Vamos lá que eu te dou umas dicas de como tratar com eles... (saem os dois de braços dados – íntimos).

Alguns minutos depois.... Iobaldo entra com um lampião na mão seguido de MArcolino. Também entra Balbina de camisolão, Marileusa com uma bandeija com xícaras de chá e Alfredo de pantufas)

IOBALDO: Seu MArcolino, eu vou recorrer a volta das casa pra ver se está tudo em ordem.

BALBINA: Primeiro toma uma xícara de chá com a gente Iobaldo.

MARCOLINO: Desde quando os empregados fazem refeições com os patrões Balbina?

BALBINA: hoje é um dia especial, Marcolino, a chegada do Alfredo de volta em casa.

MARCOLINO: humpft!!.

ALFREDO: Mãe a senhora está com um aspecto de cansada...

BALBINA: É esse teu pai Alfredo, que me azucrina o dia inteiro e não me deixa sossegar..

MARCOLINO: Mas será o pé do bicho? Veia cascarra. Agora o culpado da tua velhice sou eu? Se era pra te queixares desse jeito, não devias ter ido me buscar em Jaguarão. Só pra me empatar a vida...

BALBINA: E deixar que aquela difunta mal encomendada ficasse com o que já estava prometido pra mim? E ficar conhecida como a moça que foi trocada antes mesmo de casar? Nem morta!
(os dois começam a ficar alterados e a gritar)

MARCOLINO: Pois eu me arrependo até hoje de não ter tido a coragem de enfrentar a carabina do teu pai pra ficar com a Coralina!

BALBINA: Pois ainda é tempo! Quem sabe te enfio uma faca na goela e te mando direto pros braços daquela defunta mal encomendada!!!!!

(neste momento apagam-se todas as luzes)

MARCOLINO: Iobaldo prende o lampião...

(ainda no escuro. Começam a ouvir barulho de correntes arrastando, vento forte, uivos)

BALBINA: Tem alguém mais aqui na sala além de nós?

ALFREDO: Mamãe...

MARCOLINO: Marileusa, cadê os penico?

(Neste momento ouvem uma voz cantarolando a marcha nupcial)

MARILEUSA: Será que dá pra parar com essa brincadeira? Não é engraçado.

IOBALDO: Só um momento, tô quase conseguindo acender o lampião....

(Acendem-se as luzes e Coralina está parada no meio da sala.

TODOS GRITAM

BALBINA: Sai daqui defunta, era brincadeira, eu não ia passar a faca na goela dele!

ALFREDO: Que modelito mais cafona amiga...(chega perto, examina e arruma a defunta)

MARILEUSA: Dona Balbina, neste momento estou pedindo as minhas contas!

IOBALDO: Acho que está acontecendo alguma coisa com o seu Marcolino...

(MArcolino e Coralina estão de olhos vidrados um no outro)

CORALINA: Marcolino...

MARCOLINO: Coralina....

CORALINA: Depois de tantos anos... eu ouvi o teu chamado....

MARCOLINO: Eu não merecia a tua beleza....

CORALINA: Não te preocupes com isso, ainda podemos ficar juntos...

MARCOLINO: Mas agora tu é uma defunta (e eu to vivo)

CORALINA: Isso é fácil de resolver...

BALBINA: Marcolino, volta, isso aqui não é uma sessão do copo. Essa noiva carcomida ta morta Marcolino. Eu sou a tua esposa meu veio....

ALFREDO: Papai, seria de muito mau gosto ter que dizer aos meus amigos que meu pai fugiu com uma noiva brega e defunta...

MARILEUSA: Quem quer ingresso para o espetáculo, tô vendendo baratinho, quem quer ?. o episódio de hoje é : Vem por cima do meu cadáver....

CORALINA: Vamos meu amor. Eu quero te levar comigo para termos uma vida juntos...

MARCOLINO: Eu também quero mas... tô com medo de morrer....

CORALINA: Não tenha medo... experimente... a vida eterna será a recompensa... pense bem: poderemos recuperar o tempo perdido, voltar a ser guri novamente, namorar, rolar pelos campos...

MAROCLINO: Hummm...Isso parece bom... Onde está a minha garrucha? Achei! Pois vou dar um jeito nisso agora mesmo!

BALBINA: Marcolino larga isso homem de Deus!

CORALINA: Isso mesmo meu amor... é só um apertãozinho no gatilho e pronto estarás a meu lado para sempre!

MARCOLINO: To tentando, to tentando... mas não é tão fácil quanto parece..
(Marcolino está com a arma na cabeça, troca de lado, põe embaixo do queixo, no peito, no sovaco, no dedão do pé, demonstrando toda a sua indecisão)

ALFREDO: Papy, solta isso! Já imaginou como vai ficar a sua cara? Toda desbotada....

MARILEUSA: Seu Marcolino, vai sujar o tapete!

CORALINA: (impaciente) Anda de uma vez! Não vai me deixar esperando de novo vai?

MARCOLINO: Peraí! Desse jeito não vai dar.... Periga doer muito e não quero que me vejam todo despedaçado....

IOBALDO: Isso é desculpa....

MARCOLINO: (com ar de decidido) Marileusa me traz um balde bem cheio de água!

Enquanto Marileusa corre pra buscar p balde....

CORALINA: (bem doce) Meu domador de cavalos...

MARCOLINO: Ai...

CORALINA: Meu ladrão de corações...

MARCOLINO: Que foi?

CORALINA: (firme) não demora muito porque eu tenho que voltar senão corro o risco de ficar aqui embaixo pro resto da vida feito alma penada!!!!!

MARILEUSA: Pronto! Ta aqui o balde seu MArcolino

MARCOLINO: Então ta! Agora vai! (arremanga-se, abre bem as pernas, tapa o nariz e ... ameaça colocar a cabeça no balde várias vezes)
Depois de alguns segundos naquela posição.... olhando pra água...

BALBINA: Marcolino... Tudo bem meu veio?

MARCOLINO: É que eu me lembrei de uma coisa...

CORALINA: O que foi dessa vez????

MARCOLINO: É que eu tenho medo de água.... nem de pescar eu gosto... e agora, olhando esse mundão d’água aqui na minha frente... me deu um revertério...

IOBALDO: Que veio cagão! Ta explicado a delicadeza do guri! Saiu ao pai!

CORALINA: Então queres dizer que isso é o fim? Que não tens coragem de ficar com a mulher que te esperou todo esse tempo? Que vim aqui te buscar em vão????

MARCOLINO: Não mesmo! Só estou tentando achar a maneira mais honrosa de fazer isso. Não posso morrer que nem um franguinho.. Tenho que morrer que nem um galo como sempre fui! IOBALDO! Me traz uma corda bem forte!

ALFREDO; Vou me sentar porque estou ficando com as pernas cansadas e posso até ficar com varizes já pensou? Affff

MARILEUSA: Eu também.. dá uma pontinha aí (os dois dividem uma cadeira)

Iobaldo entra com uma corda e um banquinho na mão

IOBALDO: Ta tudo aqui patrão. Tudo bem forte conforme um galo precisa pra decidir as coisas!

BALBINA: Marcolino ainda é tempo... eu prometo que nunca mais vou esconder os doces do armário....

Marcolino enfia a corda no pescoço, amarra a outra ponta no banco e sobe nele com o peito estufado, bem macho...

ALFREDO; Que engraçado... eu sempre achei que a corda ficava amarrada numa árvore... ou no teto...

MARILEUSA: Vai ver é uma técnica nova...

Marcolino dá um salto de cima do banquinho de olhos fechados e dá um grito: Adeus!!!!

BALBINA: (após ver que nada aconteceu) Marcolino... tu desistiu???


CORALINA: (aborrecida puxa o MArcolino por um braço) Então é isso? preferes ficar mais tempo aqui nas mãos dessa veia corcunda e berruguenta, peidona, que te serve aquelas comidas horrorosas sem nenhum tempero, te dá lactopurga todos os dias mentindo que é aspirina só pra te dar caganeira, que espalha pela vizinhança as tuas intimidades, que dorme com a chapa embaixo do travesseiro, toma banho uma vêz por mês, que passa óleo de mocotó no cabelo, e tira a cera do ouvido com um grampo, a ficar comigo tua noiva eterna?????

BALBINA: (puxa o Marcolino pelo outro braço) Peraí seu esqueleto mal empalhado. Não me custa roubar o Marcolino outra vez do altar e te deixar mais cem anos vagando solteirona....

CORALINA: Mas não vai mesmo!!! (nesse momento dá um puxão no Marcolino soltando-o da mão de Balbina, pega a corda que está no pescoço do MArcolino e sai com ele nas costas com a língua dependurada)....

Com o movimento brusco e inesperado de Coralina, todos ficam imóveis

Antes de sair completamente de cena, Coralina joga o buquê para trás que cai nas mãos de Iobaldo

IOBALDO: (com o buquê na mão) Dona Balbina, finalmente vou poder dizer... Até que enfim sós!

BALBINA: Bueno, bueno Iobaldo, eu achei que não ia demorar tanto tempo!

IOBALDO: O veio era tão casca grossa que nem com todas aquelas macumbas que fiz, não largava do seu pé. Somente quando trouxe a difunta de volta é que as coisas se ajeitaram. Mas agora sim: nos livramos dele! Ahahahahah!!!!

(Balbina pula no colo de Iobaldo e saem de cena dando risada)

MARILEUSA: (Suspira) Seu Alfredo...

ALFREDO: O que foi Marileusa?

MARILEUSA: Tem programa pra hoje?

ALFREDO: Não tenho não....

MARILEUSA: Então vamos sair que eu vou te apresentar o Claudião!!!!

(Saem os dois cochichando e rindo)

Fim.

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