Outro dia fui assistir a palestra do jornalista Juremir Machado da Silva e entre tantas de suas opiniões a respeito de educação nos dias de hoje (tema do encontro), teve uma que me fez refletir sobre a minha formação e, tive que discordar do renomado palestrante.
Dizia ele que não é mais concebível impor aos alunos as famosas "fichas de leitura" nem obrigá-los a ler a famosa lista de clássicos. "- Obrigar um adolescente de quatorze anos a ler Machado de Assis ou José de Alencar vai fazê-lo odiar a leitura para o resto da vida!" Bradou com veemência o Juremir. "- Precisamos encontrar literatura direcionada para os jovens e hoje já existem muitos autores que fazem isso. Um adolescente não vai nem entender a ironia de Machado de Assis."
Com todo o respeito que eu, uma quase analfabeta se comparada com o jornalista, escritor, professor, cronista, etc., não concordo!
Ao meu ver, ter lido esses autores, ditos impróprios para os adolescentes foi fator preponderante para construir o meu gosto literário. Soaram simpáticos a mim os poemas cheios de tristeza e dor de Augusto dos Anjos e, mais tarde, descobri a mesma melancolia na poesia (que eu adoro) de Florbela Espanca. De outro modo, li O Tronco do Ipê de José de Alencar e não foi exatamente o tipo de narrativa que escolhi como minhas preferidas, minucioso, detalhista e muitas vezes cansativo. Talvez, na época, eu não tenha entendido mesmo o cinismo e o talento que os professores enxergam no Machado de Assis, mas me causou espanto a sua ligeireza ao conduzir suas histórias.
Mas, o mais importante é que eu aprendi (tive sorte de ter uma boa professora) que por trás de cada história, de cada jeito de escrever, cada estilo, havia uma pessoa, um escritor. E conhecer um pouco da vida de cada um deles foi a cereja do bolo. Saber que alguns deles eram jovens atormentados pelas dúvidas, com pouco mais de 20 anos definhavam de tristeza (e de tuberculose), outros envolviam-se na política da época misturando história, realidade, e ficção para construir o que viria ser um grande clássico. Foi isso que me encantou tanto e me fez buscar sempre mais e mais autores: foi nessa época (entre 14 e 18 anos) que li Sartre, Kafka, Balzac, Alexandre Dumas, Victor Hugo, Léon Tolstoi e outros. Queria saber mais e mais desses loucos, extravagantes, introspectivos, ativistas e tudo o mais. Suas vidas já valiam mais que qualquer escrito. Imagine ainda ter o privilégio de ler suas histórias.
Lembro que criei uma empatia instantânea pelo Graciliano pela sua história de vida comovente e, fiquei absolutamente apaixonada pelo Jorge Amada quando a ele fui apresentada. Imaginava até a voz daquele baiano dengoso deitado na rede criando as mais lindas histórias de amor e coragem que já li.
Então, não consigo entender como hoje vamos negar a existência desses homens e mulheres extraordinários, pior, impedir que nossos jovens tenham a feliz oportunidade de conviver com eles durante um tempo, poder amá-los ou odiá-los, isso significa negar-lhes o poder de escolha.
Apresentar novos autores que escrevem especificamente para o publico juvenil é render-se ao capital. Sentar-se para escrever focando um público alvo, é procurar um nicho, é empreender um objetivo, é planejamento estratégico, enfim, é negócio!
Afinal de contas, quem são esses "novos escritores"? Onde estão? Quais são as suas histórias de vida? Em que sociedade estão inseridos? Ou apenas calculam linhas e páginas em frente ao computador maquinando a história que irá vender?
Peço novamente desculpas ao Juremir, na minha opinião, estão tentando é globalizar as mentes das novas gerações, transformando todos numa grande massa sem consistência.
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