Eu tinha em torno de 9 anos. Minha irmã mais velha uns 12. Ela tinha uma amiga da mesma idade que, por sua vez, tinha três irmãs mais velhas. Moravam pertinho da nossa casa e, de vez em quando, eu tinha a "permissão" para ir junto à casa delas. E eu adorava. Eram moças bonitas, descoladas, afetadas às vezes mas não importa. Eu as admirava. Eram tão pobres quanto nós, mas tinham uma mãe costureira que colocava em prática todas as ideias supernamoda que elas tinham. Então era um desfile multicolorido de saias, blusas, mochilas, até a decoração do quarto (que tinha quatro camas, para o meu espanto, todas arrumadíssimas) não passava despercebido da minha observação infantil.
Mas.... sempre tem um mas. Uma dessas tardes na qual fui convidada a ir na casa das irmãs (ou será que foi minha mãe que me empurrou junto à minha irmã?), logo que chegamos, entrando no quarto dos sonhos, as gurias por ali fazendo qualquer coisa e quando uma delas (a mais velha) de repente reparou que eu existia e me disse:
- O que é isso guria? Essas unhas pintadas? Parece uma putinha!
Em apenas uma frase, ela me aniquilou. Esmagou minha auto estima. Me jogou pra fora do seu mundo.
Olhei minhas unhas e me perguntei: - Porquê, afinal de contas, eu pintei as unhas de rosa choque? Não era meu hábito. Deve ter sido minha mãe que deixou um esmalte dando sopa pela casa e eu, curiosa como sempre, lasquei na unha, (naquela época, anos 70, realmente não era comum crianças pintarem as unhas).
Só sei que imediatamente cravei na minha mente e no meu coração:
- Nunca mais eu volto aqui.
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