Quem conheceu a Amália Pereira teve a oportunidade de conviver com uma pessoa diferente. Geniosa, defensora ferrenha de seu modo de vida, digamos, pouco convencional.Tinha um senso crítico aguçado. E também era generosa, dedicada e engraçada.
Numa dessas, nos encontramos com a Amália na feira do supermercado. Parou para nos cumprimentar, abraços e beijos, perguntas de "como estão?", ela voltou a fazer o que estava fazendo antes de nossa chegada: escolhendo tomates. Esse encontro aconteceu bem numa fase da economia brasileira em que o preço do tomate estava nas "nuvens", e os consumidores estavam com o "pé no freio" para comprar o produto. Pois a Amália já estava com um saquinho cheio de tomates, prestes a levar uma boa quantidade do legume - o que sairia uma pequena fortuna.
Mexemos com ela, "estás com dinheiro, Amália, para comprar tantos tomates!". No que ela nos respondeu:
- Vocês sabem, que outro dia eu estava aqui, neste mesmo lugar, escolhendo tomates e uma senhora (mais velha do que eu), me fez a mesma pergunta. Eu disse a ela que não importava o preço do tomate, eu não deixarei de comê-lo jamais, afinal de contas ele é o responsável pela minha saúde, quem chegaria aos cem anos como eu ainda em tão bom estado? A senhora arregalou os olhos, me olhou de cima abaixo, e exclamou: - Nossa! Cem anos?! Como a senhora está conservada! Pois é, viu? Tudo por causa dos tomates, então não importa o quanto custa, eu não deixo de comer tomates!".
Bem típico da Amália mesmo! Usar a ironia e o sarcasmo para brincar com as trivialidades do cotidiano. Bem que ela poderia ter vivido cem anos!
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