Mais uma noite fria!
Essas portas e janelas, são como eu: empenadas, desbotadas, não sabem fazer outra cousa senão ranger...
Não sei qual o plano de Deus. O que ainda espera de mim, a esta altura da vida não sirvo pra mais nada, a não ser ... ranger igual a estas janelas... E lembrar... de tudo e de todos... minha vida tornou-se um porão abandonado cheio de velhos quadros empoeirados.. fotografias de um tempo... de um tempo que não volta mais!
Ainda posso sentir a brisa leve que beijava meu rosto e enredava meus cabelos enquanto corria solta pelos campos da várzea. Saía da cama bem cedinho, pra percorrer os campos de volta da casa, e molhar os pés no orvalho frio da noite que ainda não teve tempo de secar. Deitava no chão e ficava procurando qual era o menor bichinho que podia existir naquela vastidão de campo aberto...
Um dia, vi meu avô atear fogo num piquete que tinha atrás do terreiro e aquela cena me aterrorizou! Saí correndo com um balde na mão pra apagar o incêndio, desesperada pra salvar o que podia. Qual foi a minha tristeza ao descobrir que o fogo era de propósito, pra "limpar" o campo...
Em casa, eu era a catadora oficial de figos. Subir na velha figueira era cousa mui importante, "tarefa sagrada que a velha árvore só permitia para poucas pessoas", dizia solenemente minha avó castelhana. Eu só fui descobrir que na verdade eu era a escolhida porque era a menor da casa, e por isso podia subir mais alto sem correr o risco de quebrar algum galho. Mesmo assim, poucas coisas me davam mais prazer, e me faziam sentir melhor. Estar no topo da figueira e avistar todo o terreno e boa parte do campo, era uma cena indescritível, realmente para raros...
Criança criada no campo sabe um pouco de tudo.
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