domingo, 10 de janeiro de 2010

A lenda do quero-quero

A LENDA DO QUERO-QUERO

PERSONAGENS



Maria
José
Ovelhas
Vacas
Cães
Cavalo
Passarinho
Quero-quero
Narrador

NARRADOR: A sagrada família passou por poucas e boas quando atravessou o deserto fugindo da ordem do rei Herodes para que fossem mortos todos os recém-nascidos, de medo que um deles viesse lhe tirar o trono. Como se não bastasse a dura natureza do deserto, com um calor tremendo durante o dia, e um frio terrível durante a noite, José, Maria e Jesus ainda tinham nos seus calcanhares os soldados do tirano.

Maria e José entram muito aflitos, Maria traz o menino Jesus no colo. Cheios de bagagens e acompanhados dos animais.

MARIA: José estou com medo! Os soldados do rei Herodes estão no nosso encalço. Não demora nos alcançam! Não deixe José, não deixe que matem o nosso menino!

JOSÉ: Calma Maria. Confia em Deus que em breve acharemos um bom lugar para nos esconder, e assim conseguiremos manter Jesus a salvo.

MARIA: Está muito quente, José. Não vamos agüentar muito tempo sem pararmos para descansar e dar de beber e comer aos animais e ao menino também....

Seguem pelo caminho com dificuldade.

MARIA: José!!!! Olha José!!! Me diga pelo amor de Deus que não sou só eu que estou vendo! Um oásis!!!!

JOSÉ: Ajoelha-se. Graças a Deus! Nossa fé nos levou a esse lugar abençoado para protegermos o filho de Deus! Vamos Maria, vamos depressa descansar à sombra das árvores e beber água fresca.

Chegam ao oásis. Maria vai dar banho ao filho, enquanto José prepara as provisões para o jantar e um alojamento para a noite. Enquanto isso, os animais bebem e comem, conversando.

Ovelhas: Oh que beleza água fresca!
Vacas: Que bela pastagem.
Cão: Vou descansar um pouco uaaaaaa!
Cavalo: Preciso retoçar pra tirar a preguiça.
Passarinho: Uma árvore, que beleza!
Quero- quero: quero, quero, quero!

JOSÉ: Maria! Estás ouvindo? Estás ouvindo o mesmo que eu?

MARIA: (apavorada) Sim José! Ouço o tropel de cavalos, e gritos também!

JOSÉ: São os soldados do rei Herodes, Maria! Pegue o menino Jesus e vamos nos esconder. Aqui é um bom lugar, se ficarmos quietos, eles não perceberão a nossa presença.

Maria e José se escondem atrás das moitas mas os animais continuam a conversar.

MARIA:(dirigindo-se aos animais) Por favor, façam silêncio! Se os soldados do rei nos encontrarem estaremos perdidos! Por ordem de Herodes todos os recém nascidos devem morrer, ele tem medo que o filho de Deus tome o seu lugar, portanto, Jesus corre perigo. Fiquem quietos pelo Amor de Deus!

Os animais ficam calados, com exceção do quero-quero que continua a cantar, e voar.

QUERO!QUERO!QUERO!QUERO!

Maria volta a se esconder junto de José e o menino. Depois de um tempo....

JOSÉ: Acho que eles foram por outro lado. Graças a Deus! Parece que estamos salvos.

MARIA: Muito brava – Ei, passarinho! Tu ainda queres cantar?

QUERO-QUERO: quero , quero, quero,

MARIA: Pois saiba que tu vais cantar sim, mas sempre a mesma música. Pela tua imprudência, vais repetir esse grito de quero-quero para todo o sempre!

QUERO-QUERO FICA PARADO NO MEIO DO SALÃO CANTANDO, ENQUANTO A COMITIVA SAI DE CENA, OS ANIMAIS QUANDO PASSAM PELO PÁSSARO FAZEM CARA DE DESDÉM, OU DE PENA E SEGUEM ATRÁS DE MARIA E JOSÉ.
Depois que todos saem o quero-quero, fica perambulando pelo salão cantando baixinho e cabisbaixo.

NARRADOR: É por isso que o quero-quero , mesmo que queira, não pode dizer outra coisa. E então milhares de anos se passaram, e o animalzinho sempre cantando a mesma canção, perambulou por todos os lugares da terra, muito desolado, até chegar a um rancho gaúcho...

Entra o marido apressado e terminando de arrumar o lenço, atrás vem a esposa e as filhas.

ROQUE: Muito bem minha prenda. Preciso ir nesta tropeada levar o gado até o outro lado do rio. Senão tu sabes, perdemos muitas cabeças no inverno passado!

MINERVINA: Eu bem sei meu marido que a tropeada é mui importante, porém tenho receio de ficar sozinha com as gurias, visto que levarás contigo todos os peões da fazenda.

ROQUE: Não te preocupes mulher, que te deixarei duas espingardas e boa munição, qualquer barulho estranho que ouvires, manda bala! Además, por estas bandas anda sossegado o roubo e o saque!
Até mais ver minha prenda!
O marido sai de casa levando uma mala de garupa e ajeitando o chapéu.

MINERVINA: Toca uma sineta – Atenção todas as mulheres e gurias!!!! Venham todas aqui, preciso lhes falar!

Entram a irmã DALVA, as duas filhas – ISABEL E BEATRIZ, as filhas de MINERVINA- CONCEIÇÃO e LUIZA, e a mucama TEREZA.

DALVA: Pois sim minha irmã, quanta gritaria!

AS meninas entram brincando e se empurrando.

MINERVINA: Sentem-se todas. Tenho algo muito sério a dizer. Meu marido Roque, foi fazer uma tropeada importante, e levou consigo os peões da estância. Portanto, isso significa dizer que de hoje até as próximas quatro luas, estaremos sozinhas, apenas mulheres, resguardando a casa, os animais, os nossos valores enfim.

CONCEIÇÃO: Mãe mas isso não é perigoso?

LUIZA: Então, vá que apareça algum desconhecido..... (com cara de riso)

AS outras cochicham

MINERVINA: Decerto que é mui perigoso. Mas não temos outra saída a não ser ficarmos juntas e, se preciso, pegarmos as armas.

TEREZA: Minha nossa senhora das Graças, sinhá, e por acaso alguma de nós sabe atira com aqueles trabuco?

MINERVINA: Sim, eu minha irmã Dalva temos alguma noção de armas, as outras ficam de guarda pra qualquer movimento ou barulho.

As moças ficam cochichando, umas pegam bordados, outras crochê, outras lêem. De repente:

TEREZA: Sinhá, sinhá, acode sinhá, tem movimento na porteira! Os cachorro tão latindo!

Minervina e Dalva pegam as armas e ficam em posição de ataque. As moças gritam e ficam agarradas aos cantos.

Surge do meio do mato dois ladrões que rondavam a casa desde a manhã anterior. Pulam em frente as senhoras e as desafiam:

LADRÃO 1: Buenas noites senhora, mas que recepção....

MINERVINA: Vai-te embora forasteiro, que aqui não tem pousada pra ti!

LADRÃO 2: Mas que valentes! (espia pra dentro de casa) Mas olhem só o que vejo! Uma casa cheia de gurias! Desculpe-nos senhoras, mas não nos convidam pra entrar em tão bela residência?

DALVA: Vão-se embora daqui os dois! Se derem mais uma passo, vão levar chumbo!

Izabel e Beatriz aparecem com colheres de pau nas mãos.

IZABEL: Isso mesmo! Não é porque não há homens na casa, que vão nos fazer algum mal!

DALVA: Cala a boca Izabel!

LADRÃO 1: Oba! Mas está melhor do que eu pensava! Então quer dizer que as gurias estão sozinhas? Mas então precisam de machos que nem nós pra lhes fazer companhia!!!! (invadem a casa)

Nisso, o quero-quero grita na volta de Roque que havia parado para descansar e picava um fumo em volta de uma fogueira.

ROQUE: Mas que passarinho mais insistente. Está a cantar na minha volta a um tempão. Parece querer me avisar alguma coisa.

O quero-quero continua a rondá-lo insistentemente e desesperado.

ROQUE: Estou com um mau pressentimento. Mandei os homens na frente pra sondar a profundidade do rio e agora estou sentindo algo me chamando de volta. E mais esse passarinho que não me deixa. Quer saber de uma coisa? Vou voltar pra casa e ver o que se passa .(pega a maleta e volta pra casa, o quero-quero sempre a lhe guiar).

ROQUE: O que é isso? A porteira aberta, a luz acesa a essa hora, tem alguma coisa errada....(pega o revolver da cintura)

Na sala estão os dois ladrões sentados com os pés em cima da mesa bebendo e debochando das mulheres que tremem de medo a um canto. As armas estão em cima da mesa.

ROQUE: (entra e dá um chute na mesa atirando as armas longe) Seus ladrões safados! Saiam já da minha casa!

LADRÃO 1: (gaguejando) O que é isso meu senhor? Nós só estávamos descansando um pouco e desfrutando da hospitalidade das senhoras...

LADRÃO 2: Não precisa ficar nervoso, nós já estávamos de saída....

ROQUE: Sumam daqui e não me apareçam mais! Eu tenho um informante que me avisa de tudo que acontece na minha fazenda (chuta os dois para fora) depois recebe muitos abraços das mulheres.

MINERVINA: Meu caro esposo. Julguei que já estavas longe. Como adivinhastes que estávamos em
Apuros, a ponto de conseguires voltar?

ROQUE: (dirige-se para a rua, e aponta para o quero-quero) Foi aquele pássaro minha prenda, que estava guardando a nossa casa, e depois foi me avisar que algo ruim estava acontecendo.

DALVA: É um quero-quero!

ROQUE: Sim, e a partir de agora, muito respeito e cuidado como quero-quero, ele passou a ser o sentinela da querência.


fim

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