sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Marcela: Nós recomendamos!

MARCELA : NÓS RECOMENDAMOS!!
(Texto e direção Anelize Carriconde)

PERSONAGENS
Dona Rosa
Dona Ângela
Mariazinha
Turma do estômago
Turma do sono
Turma da sexta-feira santa

(No começo da cena dona Ângela está sentada na beira da mesa escolhendo feijão e cantarolando)

ÂNGELA: Semo bem loco, loco de Bueno, mas temo veneno na ponta da faca quando o sangue ferve viremo a cabeça, por Deus parceiro....
Essa vida de dona de casa é uma baita duma vida!

(Dona Rosa chega com uma cesta cheia de marcela e bate palmas em frente à casa da vizinha)

ROSA: Buenos dias cumadre Ângela.

ÂNGELA: Mas que prazer em receber a visita da vizinha, logo assim de manhã tão pertinho do jantar!

ROSA: Se lhe atrapalho me diga, que volto outra hora. Só estava colhendo uns ramos de marcela e acabei caminhando pra longe de casa. Então resolvi chegar no rancho da vizinha pra dar um descansada.

ÂNGELA: Atrapalhar? Capaz! Vá entrando e se assente que vou lhe servir um chimarrão. Mas me conte comadre Rosa, vejo que encontrou marcela bem amarelinha por esses campos... pois eu também já andei arrancando umas toceiras aqui pra casa.

ROSA: Mas é claro. Março e abril são os melhores meses para colher, e a cumadre bem sabe que não dá pra ficar sem marcela em casa!

ÃNGELA: Bah! Sei muito bem comadre! Ainda mais com essa criançada que tenho aqui em casa...

(Entra a turma do estômago se contorcendo e gritando pela mãe)

OLGA: Mãeeeeeeeeeeeeeee!!! Me ajuda por favor, tô com vontade vomitar!

DIANE: Eu também, e ainda por cima tô com dor de barriga!

(Antônia e Valentina entram pelo outro lado e provocam as gurias)

ANTÔNIA E VALENTINA: (juntas) Gurias...... querem comer pipoca com a gente?

LUENE: Ai meu Deus!! Tô me sentido tão mal que já tô até enxergando dobrado... (Faz cara de quem vai desmaiar)

(enquanto as meninas ficam fazendo arcada, chorando e reclamando de dor de estômago, dona Ângela acode)

ÂNGELA: Eu não disse comadre Rosa. Olha só que anarquia essas gurias fazem por aqui. Calma meninas! Já vou preparar um chá de marcela bem forte e logo logo vocês melhoram. E vocês duas pestes (virando-se para Antônia e Valentina) parem de provocar as suas irmãs com essas pipocas, e vão lá dentro arrumar seus irmãos pequenos pra dormir.

ROSA: Vou lhe ajudar a preparar o chá, comadre. O que será que as crianças comeram que passaram tão mal?

ÂNGELA: Eu tenho a impressão que foi um pão com banha que elas comeram no café da tarde. Sabe como são essas gurias, muito angurrentas, comem demais depois passam mal. Ainda bem que tenho bastante marcela.
(Ângela distribui uma caneca de chá para cada uma das meninas, que entre caretas tomam o chá)

VALENTINA: Manhê. Os pequenos não querem saber de dormir.

ANTÔNIA: Só querem bagunça e gritaria!

ÂNGELA: Mas será o pé do bicho! Toda noite agora é isso. Comadre não sei mais o que faço com essa turma pequena. Tão me dando um trabalhão!

ROSA: Ueé alguma doença grave?

ÂNGELA: Não. Semvergonhice mesmo. Quando chega de noite parece que dá um peteleco e eles ficam agitadíssimos. Não há quem faça dormir.

ROSA: Pois a comadre nunca experimentou colocar uns galhinhos de marcela no travesseiro? É um calmante natural que não tem erro.

ÂNGELA: É mesmo? Bah! Mas essa eu não sabia mesmo. Vou tirar a prova. Antônia! Vai lá dentro e trás os travesseiros dos três pestinhas....

(enquanto a menina sai, entra a turma do sono de pijama e chinelos, correndo e saltando.)

ÂNGELAS: Guris! Venham cá ! Parem de correr que já está na hora de dormir.

INGRA: Nós começamos a brincar agora!

ALICE: ninguém foi dormir ainda, nós também não vamos

MATHEUS: Não quero, não quero, não quero.....

(Antônia entra com os travesseiros)

ROSA: Isso mesmo comadre, agora coloque um pouco de marcela dentro dos travesseiros e verá que o resultado vai ser ótimo!

ÂNGELA: Quer saber de uma coisa comadre? Vou botar um pouco mais pra ver se essas pestinhas dormem bastante!!!!

(Enquanto Ângela acomoda os travesseiros os pequenos pulam, viram cambotas, fazem brincadeiras)

ÂNGELA: Meus filhos queridos. Venham cá pegar os travesseiros de vocês. A mamãe preparou uma surpreza... venham

( Cada um pega o seu travesseiro e cheira, sentindo o perfume. Fazem cara de aprovação. Trocam de travesseiros uns com os outros e vão se acalmando.)

ROSA: Daqui a pouquinho vão estar pedindo pra ir pra cama. Viu só comadre? A pouco estávamos comentando que não dá pra ficar sem marcela em casa. Nem precisa explicar porque, não é mesmo?

ÂNGELA: É verdade. Tem muita importância essa plantinha. Tu sabes que outro dia minha filha Mariazinha, veio da escola com uma conversa que a marcela tinha virado lei. Não entendi direito mas, vai saber?

ROSA: É mesmo? Que lei será?

ÂNGELA: Peraí que vou chamar. Mariazinhaaaaaa!

MARIAZINHA: Que foi mãe? Eu tava estudando. Olá dona Rosa como vai?

ROSA: Oi Mariazinha. È verdade que a marcela virou lei? Fala pra gente que história é essa?

MARIAZINHA: É verdade dona Rosa. A marcela é tão importante para as pessoas que vivem aqui no nosso estado, que foi criada uma Lei Estadual – 11.858/02 que estabelece que ela é a Planta Medicinal Símbolo do Rio Grande do Sul.

ÂNGELA: Ai que chique. Até vou fazê mais uns vaso com marcela pra enfeitar a casa. Que a planta é chiquetésima.

ROSA: Que interessante. Pois eu acho que essa importância toda vem de outros tempos. Dizem que tem a ver com nosso senhor Jesus Cristo...

(Do outro lado do salão as gurias montam uma cena: )

CASSIANE: Vamos montar o nosso trabalho do colégio?

CINTHIA: Vamos! Eu sou Jesus Cristo!

MARINA BARROS: Eu sou a Nossa Senhora!

LUISE: Então eu sou irmã da Nossa Senhora.

CASSIANE: E eu sou um soldado romano!

(elas montam a cena e ficam congeladas)

MARINA NUNES: (Entra e diz para o público) Dizem que no monte calvário, onde Jesus Cristo foi crucificado, tinha muita marcela em volta. Por isso, até hoje existe esta “superstição” de que a marcela colhida na manhã de sexta-feira Santa é benzida. Bom, ninguém sabe se essa história é verdadeira, mas a verdade é que ela já faz parte da cultura do povo gaúcho. (junta-se à cena do Cristo)

(Ângela e Rosa suspiram e fazem o sinal da cruz)

ÂNGELA: Olha comadre. A sua visita hoje foi quase uma aula. Nunca tinha prestado atenção nesta plantinha tão cheirosa e bonitinha.

ROSA: E que temos em abundância nos nossos campos.

(os pequenos vêm em direção à mãe, esfregando os olhos, abraçados em seus travesseiros com cara de sono)

INGRA: Eu quero dormir

ALICE: Tô morrendo de sono

MATHEUS: Para em frente à mãe dormindo em pé.

ÂNGELA: Mas olha só como fez efeito a receita da comadre, tá tudo calminho...

(neste momento a turma do estômago vem correndo)

OLGA: Mãe, mãe, mãe. Já melhorei, tô bem boa. Que beleza!

DIANE: Eu também não sinto mais nada. Já tô até com fome!

LUENE: Esse chazinho me deu uma disposição....

(As três convidam os outros pra brincar e fazem uma brincadeira de roda em torno da mãe).

ROSA: (rindo) Bueno comadre. Esse tipo de “problema” nem a marcela resolve.... Passar bem e até mais ver!!

(Enquanto dona Rosa sai, as crianças fazem a maior bagunça e dona Ângela fica esfregando marcela neles, coloca marcela atrás da orelha faz de tudo)

ÂNGELA: Tem que dar certo, tem que dar certo.

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