Mulher, eu te amo ainda!
Do desprezo cruel que me votaste o grande peso
Não matou-me o sentir.
O amor, esse profundo sentimento,
Não morre, como pensas, num momento;
Eu creio no porvir!
Que importa pra ti seja a amizade
Irmã gêmea da torpe falsidade
Derramada a cerviz!
Teu coração é um coração de pedra,
Onde a planta do amor apenas medra
Sem viço e sem raiz.
Podes rir do meu canto. Não me humilha
O riso que em teus olhos ora brilha;
A hyena também ri.
Mais que todo o teu falso juramento
Vale um púcaro só do sentimento
Que alimento por ti.
Eu falo, não em nome do presente,
Em que te vejo altiva, indiferente,
Alheia à própria dor;
Mas em nome do tempo em que, choros,
Me juravas, hipócrita formosa,
Eterno e santo amor.
Em nome desse tempo em que a teu lado
Eu ia da ventura o alcandorado
Castelo construir:
Desse tempo em que, louco, presumia
Encontrar no teu peito – idolatria:
Na tua alma – sentir.
Hoje, o fidalgo e gótico castelo
Tem o frio silêncio e o pesadelo
De um extinto vulcão!
E através das ruínas e dos escombros,
Apenas se divisa nos ensombros
As rosa da paixão!
Não pretendo magoar-te. Eu sei que um dia,
Medindo a tua funda hipocrisia,
(Permite esta asserção)
Hás de sentir na vida a realidade,
Auferindo com pasmo a intensidade
Da tua ingratidão!
Só então a saudade do passado
Se evolando de um túmulo fechado,
Que é o teu primeiro amor,
Lembrará uma corrente represada
E o perfume que sai da amortalhada
E ressequida flor.
Vai, mulher: inda te amo! Do desprezo
Cruel que me votaste o grande peso
Não matou-me o pensar!
O amor, esse profundo sentimento,
Hade o tempo apagá-lo lento e lento;
Eu não preciso amar!
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