segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Joelhos da infância

     Outro dia comentava com minhas filhas como elas têm poucas marcas de ferimentos nas pernas e braços, típicos da infância. Ao contrário de mim, que sempre faltava um pedaço fruto das mirabolantes brincadeiras de rua, que não obstante resultavam em arranhões e hematomas.
       Numa destas, brincávamos lá fora na casa do vô Lesinho, em quente tarde de verão, dias de carnaval, eu, minha irmã mais velha e uma prima. Felicidade é pouco em conseguir encaixar um dia inteirinho de brincadeiras no melhor lugar do mundo e ainda, no final de tarde, correr pra cidade e aproveitar o baile infantil de carnaval no Clube Caixeiral, coisa que também apreciávamos muito.
      Mas, no meio da correira no terreiro de casa, não deu outra: joelhos esfolados, sangue correndo perna abaixo, ferida braba cheia de areia, infecção e alguma dor. Não em uma perna. Não na perna de uma de nós. Nas duas pernas das três gurias! - Barbaridade! Acho que não vai dar nem pra levar ao baile! Dizia a mãe nos metendo terror. - Dá sim! É uma feridinha de nada, retrucávamos nós.
     E assim o foi. Vamos pra cidade, banho, cabelo arrumado, um pouquinho de maquiagem e a mais linda fantasia de cigana feita é claro pela mãe. Sorte nossa! Quando encontramos a prima, que até então debochava de nós pois a SUA fantasia era feita de lamê e tinha bordados, coisa muito chique e chamativa, já que a nossa era de puro algodão.
      Mas no final das contas, eis o resultado na foto: nós com nossa fantasia pobrezinha, salvas pela saia comprida que escondia os joelhos sem tampa. Ela, com a fantasia de lamê e as pernas revelando que não importa a riqueza da roupa, no fundo, toda a criança quer mesmo é brincar.

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