segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Meu primeiro sutiã

Não lembro muito bem a minha idade, mas tenho a impressão de que não passava dos dez anos. Minha avó fez para mim uma blusinha de crochê branca, de alças largas e ponto delicado, que eu gostava muito de usar no verão, principalmente porque eu ficava bronzeadinha, e o branco realçava. Porém as mudanças no corpo acontecem em tempos diferentes para quem as sofre e para quem nos vê sofrê-las. Uma tarde de um verão destes, fui com minha blusinha branca até a "Cigarraria", no centro da cidade fazer umas comprinhas de gibis.
Entrei naquele prédio grande com prateleiras cheias de revistas, livrinhos e muitos souvenirs que enchiam os meus olhos infantis. Escolhi o que eu queria e fui ao caixa.
Dona Guiomar, era a popular funcionária da Cigarraria, uma figura pitoresca, solteira de idade avançada e língua afiada. Não sei quem estava ao seu lado no caixa, mas foi com esta pessoa que ela comentou achando a maior graça:
- Olhas as tetinhas dela aparecendo!"
Eu dei uma olhada para o meu peito e só então, constatei que aparecia, levemente entre as tramas de crochê, meus pequeníssimos seios que estavam despontando timidamente.
Foi automático o vermelhão no rosto e um sorriso amarelo na despedida. Fui quase correndo pra casa abraçada com os livros no peito pra que mais ninguém me visse naquele estado de nudez absoluta. Muito chateada com minha mãe que não me avisou do perigo, cheguei muito de mau humor, e contei que nunca mais iria usar aquela blusinha branca.
O alvoroço foi grande porque poucos dias depois apareceu um sutiã azul clarinho bem pequeno, que uma tia me presenteou.

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