domingo, 25 de fevereiro de 2018

A chegada do inevitável

Um dos momentos mais complicados na vida das meninas é o início da menstruação. Dizem que a natureza é perfeita, mas durante muito tempo eu duvidei dessa máxima porque na minha opinião não tinha o menor sentido acontecer aquilo comigo.
Pra variar eu estava na casa dos meus avós, na campanha, no melhor lugar do mundo! No meu parque de diversões particular, onde eu libertava toda a minha imaginação nas mais mirabolantes brincadeiras, principalmente aquelas que incluiam um certo grau de perigo: subir em árvores, desafiar olho d’água, desbravar matos e o melhor de todos: banhar-se no arroio. Imaginem a minha frustração quando acordei de manhã cedinho e - tchan!!! - aconteceu! Eu já sabia o que era, afinal tinha irmã mais velha e muitas primas que conviviam com a gente e já haviam revelado (algumas muito faceiras) a desgraça que estava por vir. Fui contar pra mãe para que pudessemos tomar as devidas providências, e as primeiras horas do dia foram um misto de tentativas de descontrair e esquecer o advento, tarefa impossível afinal de contas, como poderia subir numa árvore usando fraldas????
Aos poucos fui me adaptando à minha nova condição, mas sem nunca deixar de me sentir uma doente, e muito menos sem entender porque minhas primas sentiam-se tão animadas e orgulhosas porque já tinha descido!
Era uma época de tantos mistérios e poucas conversas a respeito que o pouco que eu sabia era aterrorizante para o meu, digamos, estilo de vida.
Mas o pior de tudo mesmo, foi quando cheguei na cidade, dias depois, e uma tia com olhar malicioso e um sorriso ainda mais cruel mexeu comigo:
- Olha, ela já é uma mocinha! Foi a gota d’água! Pensa numa guria aluada!

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