domingo, 25 de fevereiro de 2018

Cada um com seus cada um...

Quando a gente era criança, a nossa mãe era costureira. Então a gente andava sempre de vestidinhos feitos por ela, calças feitas por ela, casacos feitos por ela.... qualquer pedacinho de tecido já dava pra fazer uma peça cheia de babadinhos e frufrus - como toda mãe adora arrumar as filhas.
Cada família tem seus hábitos e culturas e a nossa, tinha a cultura da economia. Junto com a escassez do dinheiro vem os costumes. Duas vezes por ano, fazíamos compras na Casa Alfredo. No começo do inverno: uma calça jeans para cada uma, lãs para confeccionar os blusões, um par de calçados e, tecidos para o resto. No verão: um par de sandálias e um de chinelos para cada uma e, tecidos para o resto.
Também tínhamos a sorte de ganhar roupas vindas das primas e das tias - meu pai dizia: “olha a roupa trocando de pobre”.
Porém, quando a adolescência foi chegando, a gente foi ficando mais exigente e queríamos andar vestidas como as outras meninas, com roupas compradas prontas, e esquecer aquela regra de ter que guardar a roupa para o “dia de sair”.
Aí era um fuzuê, a mãe ainda na resistência de que não mandava mais e nós, inventavamos modas com recortes, pinturas e algumas roupas emprestadas... “Olha só! Aí vem a miséria enfeitada!”, dizia ela, para nos lembrar que, embora tentássemos aparentar outra coisa, ainda continuavamos pobres.
Não nos mixávamos. Eu muito cedo aprendi a fazer tricô e crochê e essas habilidades me salvaram muitas vezes. E assim, fomos driblando as dificuldades com criatividade.Lembro de um final de semana que eu queria sair e só tinha roupas velhas no guarda-roupas. Peguei um pulôver que eu mesma tinha feito e que já estava bem usado, desmancheio-o pela manhã e passei a tarde fazendo outro, um pouco diferente, com sobras de outras lãs misturadas. Só apareci quando a peça estava pronta.
Bem faceira, de blusão novo, fui aproveitar meu sábado, afinal de contas, guria que põe a cabeça pra funcionar não perde uma balada por nada nessa vida!!!

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