A vida escolar de qualquer pessoa é, em geral, muito marcante. É o início da sua socialização, de sair do seio da família para começar a se relacionar com outras pessoas, com outros tipos de disciplinas e regras enfim com um outro mundo.
E dentro da vida escolar, pelo menos até o final dos anos 1980, um dos momentos mais significativos era, sem dúvidas os desfiles de sete de setembro.
O retorno das férias de julho eram ritmados pelos ensaios das bandas escolares, e também pelos ensaios dos pelotões e alegorias que se reuniam no pátio ou na frente da escola para acertar todos os movimentos que seriam apresentados na Dr. Monteiro.
Eu tenho muitas lembranças dessa época tão excitante (pelo menos pra mim que sempre gostei), principalmente as desastrosas.
Meu primeiro desfile era já no Jardim de Infância do 20 de Setembro, no qual eu iria usar uma linda roupa de abelha confeccionada pela Nairzinha que tinha uma malharia ali na Herculano de Freitas. A expectativa era grande pois eu estava achando o máximo desfilar fantasiada (já naquela época os figurinos povoavam minha imaginação). Pois para minha grande frustração peguei catapora três dias antes do tão esperado desfile e não pude nem assistir minha turma de colegas abelhas passar na avenida.
Mesmo assim nunca perdi o encanto por aquele momento que, para os professores deveria ser cívico - mas para mim era altamente artístico! Como esquecer o deslumbramento ante a glamourosa banda da Escola 20 de Setembro com o Guto Pereira de Mor à frente, dentro de uma roupa de gala azul, branca e dourada esplêndida! E as balizas? Eram a personificação da beleza e do luxo! Tudo era perfeito! O desfile era aberto com aquela banda muito bem ensaiada que nos enchia de orgulho, depois vinham os pelotões de alunos que Deusolivre errarem um passo, os uniformes azuis de calça comprida dos meninos e saia pregueada das meninas, também tinham os pelotões de abrigo Adidas e aí vinhamos nós, as alegorias, com sainhas curtas (disso eu também gostava), e enfeites coloridos, bambolês, e tudo o mais que a imaginação de nossas professoras permitissem.
Numa dessas... eu era a que vinha bem na frente, e nas mãos uns alteres de madeira com grandes bolotas nas pontas. Bem na esquina da Adolphina eu levanto o braço e a bolota se solta de um desses alteres e vai parar na calçada, na cabeça de uma senhora que dá um grito e cai para trás. Eu fiquei rosa chiclete de vergonha mas não olhei para o lado, continuei durinha e executando meus movimentos. Com a visão periférica vi a professora correr, pegar a bolota, pedir desculpas e voltar para a rua.
Meu último desfile no 20 de setembro foi em 1980 quando terminei a quarta série. Nesse eu vinha num Pelotão de uniforme e, para minha tristeza, era última da fila que obedecia uma ordem decrescente ( “de maior a menor!”). Estávamos na esquina da Farmácia Olga, preparando-nos para sair. Minha mãe na calçada me cuidando e, junto a ela, minha irmã menor que devia ter pouco mais de um ano de idade. Pois quando esta me viu, saiu correndo e agarrou-se às minhas pernas e não havia jeito de desgrudá-la. Eu revirei os olhos pra mãe, furiosa e completamente vermelha de vergonha. Levei pelo menos uma quadra para me recuperar do mico.
Quando terminava o nosso desfile, a gente procurava um lugarzinho pra assistir as outras escolas que ainda passariam: a Dr. Dionísio com aquele uniforme azul marinho e branco lindo! O Brochado de vermelho e o Ginásio com os maiores... Depois de adulta ouvi alguns dizendo “marchar é coisa de milico”, e aos poucos o sete de setembro foi perdendo o encanto, o glamour, o sentido, restando hoje uma ínfima lembrança do que já fora no passado.
Abrindo mão da discussão ideológica sobre o evento, o que sei é que, naquela época, tínhamos orgulho e cuidado com a escola, admirávamos nossos colegas e professores e dávamos um imenso valor ao nosso país!
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